quarta-feira, 4 de junho de 2025

CARTAS HABANERAS * Emiliano José/BA

CARTAS HABANERAS
Emiliano José

Oito dias em Cuba.
Entre o Primeiro de Maio e o dia 8, quando regressei.
Dias enriquecedores.
A provocar reflexões.
Revelo, de pronto, se ainda necessário, quão forte a lembrança de Carla França em Havana.
Minha amada mulher, companheira.
Partiu em agosto.
Fez a viagem definitiva.
Dor.
Profunda.
Não é fácil entender.
Cada um vive a ausência amada de forma singular.
Não há modelo para o luto.
A dor é solitária.
Via Carla a cada passo em Havana.
A paixão dela por Cuba, por Havana, pelo povo da Ilha, alegre, seguro de si, mesmo à frente de inúmeras dificuldades.
Paixão pelo jeito simples daquela gente.
Tinha um desejo: viver na Ilha.
Nas andanças pela capital cubana, agora, estivemos, eu e Jorge Ferrera, no Museu José Martí.
Um dos pensamentos do intelectual e revolucionário: é vergonhoso e inaceitável o esquecimento dos mortos.
Tal pensamento pode dizer respeito às vítimas de ditaduras.
E diz.
Mas, também, às pessoas mais próximas, nossos amores, nosso amor.
Não olvidar os mortos é lembrar o legado deles.
Honrar a memória.
Lembro de tudo Isso quando penso em Carla.
De cada gesto.
Sentimentos solidários e amorosos dela.
Generosidade.
Tive o privilégio de tê-la ao meu lado.
A dor da ausência, ainda muito presente.
Não tenho pressa.
Não quero apressar o rio.
Ela aínda me ocupa.
Deixo a presença dela se fazer.
Ausente seja.
Ausência e doce presença.
Ninguna.
Ainda.
E Cuba trouxe-a.
Feliz, alegre.
Cheia de vida.
Em 2018 e 2019, quando estivemos juntos na Ilha.
Esses oitos dias tiveram, entre tantas coisas, o condão de me trazê-la de volta.
Não a tenho mais.
E a tenho, nas doces recordações das nossas duas visitas à ilha.
Lembrar os mortos.
O conselho de Martí.
Nunca esquecer os amores.
O amor.
Nestes dias, breves, pude sentir novamente a alma da Ilha.
A alma do povo.
Povo protagonista de um autêntico milagre.
Só o ser humano é capaz de milagres
O resto, conversa mole pra boi dormir.
Agradecimentos eternos a Jorge Ferrera, meu anfitrião sempre.
E agora agradecimentos também a Martha, companheira dele, a quem conheci nesta viagem.
Pude perceber o milagre, a capacidade de resistência do povo cubano face ao criminoso bloqueio norte-americano.
Capacidade a se estender por décadas, desde o início da Revolução.
Perceber, também, de raspão seja, os gigantescos desafios dessa pequena nação.
Me desculpem o paralelo: lembrei de Asterix.
Li muito na prisão.
A insubmissa aldeia gaulesa, resistindo ao Império Romano.
Asterix e Obelix, lembram?
Só os maís velhos, creio lembrarão.
Cuba evoca aquela aldeia gaulesa, a recusar-se à rendição.
Face ao Império Romano, perdão, Império Norte-americano, a Ilha jamais se dobrou.
O Império nunca aceitou o triunfo de uma revolução nas suas barbas.
E feita por ousados barbudos.
Não esperava tal resistência.
Tentou uma grande invasão, a de Playa Giron, e foi derrotado fragorosamente.
A resistência à invasão mercenária foi comandada por Fidel Castro e Che Guevara.
O acontecimento só fez consolidar a natureza socialista da Revolução.
Essa natureza é inaceitável para o Império.
E por isso tenta sufocá-la de todos os modos.

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