sábado, 11 de janeiro de 2025

Fernanda Torres, o Itáu e a Ditadura * Alexander Ceci/SP

Fernanda Torres, o Itáu e a Ditadura
Alexander Ceci

Parabéns a Fernanda Torres pela premiação em função do excelente filme "Ainda estou aqui"! Mas, sendo "estraga prazeres", lembro: Walter Salles, o diretor do filme, é herdeiro no Itaú-Unibanco, sendo por isso o cineasta mais rico do mundo.

Voltando na história, o banco Itaú foi um dos principais financiadores da "caixinha" da Operação Bandeirantes (OBAN), que tinha também a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (FIESP) e como articuladores políticos Paulo Salim Maluf e Delfim Netto. O famigerado criminoso e torturador, o delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, trabalhava para a OBAN.

A OBAN matou Carlos Marighella, em 04 de novembro de 1969, através de Fleury. A OBAN também fez surgir o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). O DOI-CODI do Rio de Janeiro funcionava na Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, no bairro da Tijuca.

Após saber que o ex-deputado federal cassado pela ditadura Rubens Paiva teria um encontro com Carlos Alberto Muniz da direção do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), o DOI-CODI o prendeu, assim como a sua esposa Eunice e uma das suas filhas, na PE da Tijuca (ler "Cachorros", Marcelo Godoy, que relata a infiltração de agentes da repressão na esquerda da época).

Lá Rubens Paiva foi barbaramente torturado e assassinado e o seu corpo desapareceria até hoje. Já o Itaú, que em 1965, ocupava a 150ª posição no ranking dos bancos brasileiros, depois de dez anos de regime militar, em 1975, se tornou o 2° maior banco do país.

Seu dono, Olavo Setúbal, conspirador do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas ) e do IPES (Instituto de Pesquisa de Estudos Sociais) antes do Golpe de 1964, depois virou prefeito biônico da maior capital brasileira, São Paulo, em 1975, indicado que foi pela ditadura.

Já Walther Moreira Salles, pai do cineasta Walter, foi por duas vezes embaixador brasileiro nos EUA e ministro da Fazenda no governo João Goulart. Ao contrário da grande maioria dos empresários ligado a Jango, Walther pai sobreviveu ao golpe, pois era unanimidade entre os golpistas como também nos EUA, mentor da derrubada de Jango. Walther era amigo de Rockfeller e de Lincoln Gordon, o embaixador ianque no Brasil e conspirador de primeira linha do golpe. Delfim assegurava que qualquer cisma contra Walther era besteira.

Diga-se de passagem, os dois principais ganhadores da reforma bancária imposta pelos banqueiros em 1965 foram Olavo Setúbal e Walther Moreira Salles. Tanto que através do seu banco de médio porte, em 1966, o último criou o Banco de Investimento do Brasil, com sócios americanos. E passou a comprar diversos bancos até adotar o nome de UNIBANCO, em 1974. Em 1991, Walther pai comprou parte do Nacional, propriedade da família Magalhães Pinto, cujo patriarca foi governador de Minas Gerais e foi outro golpista chefe em 1964. Em 2008, Itaú e Unibanco formaram um só banco, mas as suas digitais estavam nas duas décadas de triste memória do nosso país.

O filme "Ainda estou aqui", apesar disso tudo, não perde a sua extrema validade, principalmente nesse momento de bolsonarismo; de Trump; de Javier Milei; do genocida Benjamin Netanyahu; do crescimento da extrema-direita e por denunciar um crime hediondo, que dá impulso para denúncia de outros tantos crimes hediondos feitos pela ditadura, cujos corpos não apareceram como o de Rubens Paiva.

Mas, não deixa de ser bem irônico e típico dessa democracia dos ricos e dos bancos, ver instituições que estiveram por detrás da criminosa "Revolução de 1964" (como o Itaú ainda chamava o Golpe na sua agenda de... 2014) estarem no DNA da fortuna do diretor que produziu "Ainda estou aqui". Em resumo: um banqueiro "sensível" vira ícone nacional. Só falta ter trio elétrico para ele. Tira o tubo!

Por fim, os festejos com a premiação do filme feitos pela mafiosa Rede Globo (que cresceu o seu império com a ajuda das botas dos milicos, e que defendeu a ditadura até o último momento, procurando, inclusive, esconder a Campanha das Diretas em 1984) são uma cusparada na cara daqueles que preservam a memória dos 21 anos do sanguinário regime militar. 
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